Nos meses de novembro e dezembro de 2025, o Cinematógrafo, com o apoio e parceria de sempre do Circuito Saladearte, realiza o ciclo “Origens do Cinema”, uma viagem pelo primeiro momento de afirmação do cinema enquanto expressividade artística, que abrange o ciclo do Cine Cineasta e as sessões CULT, Clube da Comédia e Cinematógrafo!

📒 Dos Curadores do Cinematógrafo, os cineastas Mel e Fabricio:
O primeiro cinema e a sua afirmação artística
Quando o cinematógrafo – o aparelho patenteado pelos irmãos Lumière em 1895 – surgiu, não havia ainda “o cinema” como o conhecemos — havia experiências visuais, tentativas de capturar o tempo. Em poucos anos, a técnica se transformou em arte: o cinema começou a pensar e sentir por imagens, e a humanidade descobriu, através dele, uma nova forma de imaginar o mundo: o cinema se torna o “grande olho aberto para a vida”, da pioneira diretora e crítica de cinema francesa, Germaine Dulac, “a sétima arte”, do italiano Riccioto Canudo.
O ciclo especial do Cinematógrafo “As Origens do Cinema” percorre esse momento inaugural em que a arte cinematográfica se firmava com força criadora. Antes de um retorno ao passado, o ciclo é um mergulho nas primeiras perguntas do cinema: como narrar com luz? Como traduzir emoção, sonho e pensamento através das imagens?
Na sessão 1 do ciclo do Cine Cineasta, “A Primeira Cineasta”, conheceremos o gesto fundador de Alice Guy-Blaché, pioneira esquecida que transformou o cinematógrafo em ficção e poesia. Na sessão 2, “Os Gêneros”, veremos o nascimento da imaginação cinematográfica: a fantasia, o faroeste, o suspense e o burlesco — os moldes expressivos que definiriam toda uma história de filmes. Em “A Paixão de Joana d’Arc”, o cinema atinge o auge de sua intensidade espiritual. Nas sessões dedicadas ao Burlesco, com Chaplin e Keaton, a arte do riso transforma o cotidiano em beleza, com humanismo trágico e graça.
Em “Fausto”, o cinema assume sua vocação metafísica ao expressar o espírito dos tempos inspirado na grande obra de Goethe. Na Sessão Cinematógrafo, “Limite”, de Mário Peixoto, a lendária obra-prima brasileira do cinema mudo.
Em dezembro, retomaremos o ciclo Origens com o realismo poético francês, o terror do expressionismo alemão e as vanguardas russas e soviéticas. 👉 Programe-se! A gente se encontra na Saladearte!
PROGRAMAÇÃO DE NOVEMBRO
Sessões no Cine Daten Paseo, a Saladearte no Shopping Paseo Itaigara – exceto a última, a sessão Cinematógrafo, de “Limite”, que será no Cinema od Museu, a Saladearte no Corredor da Vitória.
SÁBADO, 15/NOV 10H30 – A PRIMEIRA CINEASTA
O Jardim Perdido – A Vida e o Cinema de Alice Guy-Blaché (1h53)
A Fada do Repolho (1896, 1 min)
O Cair das Folhas (1912, 12 min)
Antes mesmo que o cinema fosse considerado arte, Alice Guy-Blaché já o intuía como uma forma de expressão poética. Primeira mulher a dirigir um filme, pioneira da ficção narrativa e criadora de uma obra tão vasta quanto esquecida, Alice foi apagada da história por décadas. Esta sessão resgata sua trajetória com o documentário O Jardim Perdido, intercalado com duas de suas obras sobreviventes — A Fada do Repolho, um encantamento inaugural, e O Cair das Folhas, um delicado drama sobre infância e efemeridade. Uma homenagem à mulher que viu no cinematógrafo não um invento técnico, mas um novo modo de sonhar.
DOMINGO, 16/nov, 10h30 – OS GÊNEROS
A Viagem à Lua (1902, 15 min) – Georges Méliès
O Grande Roubo de Trem (1903, 12 min) – Edwin S. Porter
Suspense (1913, 10 min) – Lois Weber
O Imigrante (1917, 25 min) – Charles Chaplin
Do maravilhoso ao realismo, da fantasia ao riso, o cinema cedo descobriu que podia ser muitos cinemas. Esta sessão apresenta os primeiros traços dos grandes gêneros cinematográficos: a ficção científica de A Viagem à Lua, o faroeste de O Grande Roubo de Trem, o suspense psicológico de Suspense — dirigido por Lois Weber, uma das grandes pioneiras esquecidas — e o humor social de Chaplin em O Imigrante. Um passeio pelo nascimento da linguagem e da imaginação que moldariam toda a história do cinema.
QUARTA, 19/nov, à noite* – A PAIXÃO DE JOANA D’ARC (1h54, 1928) – Carl Theodor Dreyer
Um dos filmes mais intensos e espiritualmente arrebatadores da história do cinema, A Paixão de Joana d’Arc marca o auge do cinema mudo como arte pura da imagem. Dreyer transforma o martírio de Joana em uma experiência visual e emocional sem precedentes, conduzida pelo rosto de Renée Falconetti, cuja atuação — quase inteiramente em close — revela a alma em conflito entre fé e dor. Nesta sessão, o cinema atinge o ponto em que imagem e espírito se confundem: o olhar torna-se oração.
- Horário a ser definido na programação da semana.
SÁBADO, 22/nov, 10h30 – O BURLESCO
O Garoto (1921, 53 min) – Charles Chaplin
Entre o riso e o pranto, Chaplin criou uma das linguagens mais humanas do cinema. Em O Garoto, o vagabundo Carlitos encontra um menino abandonado e forma com ele uma improvável família. A ternura e o humor se fundem em uma fábula sobre amor, miséria e sobrevivência, onde o gesto cômico revela a dor social e a esperança. Esta sessão celebra o cinema burlesco como arte de resistência: o riso que humaniza o desamparo.
DOMINGO, 23/nov, 10h30 – O GENERAL (1923, 79 min) – Buster Keaton
Com precisão de engenheiro e alma de poeta, Buster Keaton levou o burlesco ao seu ponto máximo de invenção visual. O General é uma obra-prima da comédia de ação, ambientada na Guerra Civil americana, em que o herói — obstinado e desastrado — persegue seu trem com devoção e destemor. Um espetáculo de acrobacia, ritmo e poesia mecânica, onde o corpo humano dialoga com as máquinas e o cinema mostra toda a sua potência de movimento.
SÁBADO, 29/nov, às 16h – LIMITE (1931, 1h54) – Mário Peixoto
No Cinema do Museu.
Símbolo maior da vanguarda cinematográfica brasileira, Limite é um filme sem equivalente. Dirigido por Mário Peixoto em 1931, e por décadas envolto em mistério, o filme transcende a narrativa convencional para alcançar uma forma puramente sensorial. Três figuras à deriva em um barco evocam memórias e imagens de um mundo interior, onde o tempo parece dissolver-se. Inspirado nas experiências poéticas do cinema europeu, Limite representa o momento em que o cinema brasileiro, ainda em sua gênese, se inscreve na busca universal pela expressividade artística. Um gesto radical e silencioso — como o próprio nascimento da arte.
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COMÉDIA – NOVEMBRO
Marinheiro de Encomenda (Steamboat Bill, Jr., 1928, 71 min) – Charles Reisner / Buster Keaton
Dias 10 e 24 de novembro, no Cine Daten paseo, à noite*
Último grande filme da era independente de Buster Keaton, Marinheiro de Encomenda é uma sinfonia de engenho físico e melancolia cômica. A história do jovem atrapalhado que tenta conquistar o respeito do pai e o amor de uma moça serve de pretexto para algumas das sequências mais ousadas do cinema mudo — como a célebre cena da fachada que desaba sobre o protagonista. Nesta comédia de naufrágios e ventos, Keaton reafirma o cinema como arte do corpo em movimento e do acaso como poesia.
- Horários a serem definidos na programação semanal.
CULT – NOVEMBRO
Fausto (1926, 1h47) – F. W. Murnau
Dias 13 e 27, no Cine Daten Paseo, à noite.*
Com Fausto, F. W. Murnau levou o cinema expressionista alemão ao seu ápice estético e metafísico. Inspirado na obra de Goethe, o filme recria o pacto entre o homem e o demônio como um espetáculo de luz, sombra e transcendência. A alquimia visual de Murnau transforma o mito em pura imagem: o bem e o mal se dissolvem em névoas, fumaça e movimentos de câmera que parecem dançar com o destino. Um marco da história do cinema, em que o poder da imagem se afirma como o verdadeiro “diabo” tentador — capaz de criar mundos e ilusões absolutas.
- Horários a serem definidos na programação semanal.
