O Cinema, enquanto parte do esforço humano de criar, tem o poder de saudar a vida até mesmo a partir dos piores aspectos dela. Vamos conversar sobre “O Ato de Matar” no nosso 37º Encontro do Cinematógrafo e Saladearte Daten, nesta quarta, às 19h30, via Google Meet. Inscreva-se e participe!
NOTA DOS CURADORES
O ATO DE MATAR
Condição humana, modernidade e a propensão cínica de justificar o mal
O que é o mal? O que a Indonésia moderna tem a ver com o Brasil atual? O que a modernidade, que somos nós, os que – também – jamais fomos modernos, representa enquanto ciência, moral e condição humana que se realiza, também, ideológica e politicamente?
Dirigido por Joshua Oppenheimer e co-dirigido por Christine Cynn e um indonésio anônimo, e produzido por Werner Herzog e Errol Morris, The Act of Killing (Dinamarca, Noruega, Reino Unido, 2012) – ou ‘O Ato de Matar’, é um filme perturbador, visto como “uma das mais chocantes obras sobre a representação do Mal na sociedade contemporânea”.
O filme retoma os horrores da ditadura Indonésia, instaurada depois de um golpe em 1965 e cujo regime, até hoje vitorioso, é responsável por um massacre de comunistas de enormes proporções, executado por milícias paramilitares. Os indivíduos que participaram das milícias e cometeram crimes brutais não responderam por isso: pelo contrário, eles são considerados “heróis nacionais” chancelados pelo regime vigente, e até reecenam seus atos “heroicos” de tortura de assassinato.
Apesar dos avanços incontestáveis, ao longo da modernidade, nos âmbitos tecnológicos e científicos, os grandes problemas da humanidade, como a distribuição das riquezas (materiais e simbólicas), a miséria e as guerras desumanas, permanecem, colocando em profunda crise os relativismos que pairam sobre a noção de “Mal”, gerando, no seio das sociedades e nos corações dos indivíduos, angústia, confusão, mal-estar e frustração.
Em meio de tantos “progressos”, sobrevive na condição humana, entretanto, uma NOSTALGHIA moral de algo fundamental e indefinido, que esteve sempre presente (representado) nas hipóteses que os seres humanos criaram e criam sobre o mundo e a vida em sua diversidade cultural (nas invenções de mundos simbólicos que materializam a vida concreta e substanciam a ordem social e política de uma comunidade). “Terra deu, terra come”, como disse seu Pedro de Alexina. E, nesse meio tempo, somos instados a viver, enquanto criaturas incompletas, com tudo que há de bem e mal, entre bem e mal e além de bem e mal, que a contingência de viver implica, com nuanças de luzes e sombras.
“O Ato de Matar” é, nesse sentido, um filme sobre o mal, não no sentido de sua banalização, mas – ao contrário – de sua singularidade racionalizada e assumida. Singularidade porque o “mal” (no sentido da violência que se institucionaliza) não traduz a totalidade do humano. Em última instância, trata-se de um filme sobre os desafios de nosso tempo, situados entre o terror individual e os crimes de estado, a ânsia de idealizar o real, o pendor para a criação da Beleza em conflito permanente com a propensão cínica de justificar o mal.
O Cinema, enquanto parte do esforço humano de criar, tem o poder de saudar a vida até mesmo a partir dos piores aspectos dela.
Por fabricio e camele, curadores do Cinematógrafo
Vamos conversar sobre “O Ato de Matar” no nosso 37º Encontro do Cinematógrafo e Saladearte Daten, nesta quarta, às 19h30, via Google Meet.
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ENCONTROS VIRTUAIS
Os Encontros Virtuais Cinematógrafo e Saladearte Daten acontecem nas tardes de sábado e nas noites de quarta desde o início da quarentena, sempre com um filme diferente sugerido pelos curadores do Cinematógrafo, os cineastas Camele Queiroz e Fabricio Ramos, e que pode ser visto online, em casa, a qualquer hora antes do encontro. As conversas acontecem via Google Meet e são participativas. A ação é gratuita, aberta e não tem fins comerciais.
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