Nesta quarta, dia 8/mar, vamos ao nosso 137° Encontro Virtual Cinematógrafo e Saladearte! O assunto, desta vez, é o filme “O Homem Sem Passado” (2002), do diretor finlandês Aki Kaurismäki.
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📒 NOTA DOS CURADORES
… “O Homem Sem Passado”, é sobre recomeço, reinvenção da vida, transcender os limites impostos pela sistematização total da existência. – Por Mel e Fabricio
“O Homem Sem Passado” (2002), do diretor finlandês Aki Kaurismäki, é uma comédia, mas daquelas diferentes, de estrutura fabular e enredo dramático, de tom levemente simbólico. Quem lembra dos filmes de Ozu, de Eugène Green, de Bresson, que passamos em nossos encontros, reconhecerá afinidades pontuais na atmosfera minimalista de um, e na dramaturgia quase teatral, de outros.
Mas Kaurismäki nos convoca a outro pacto. Parte de uma fábula que, à primeira vista, parece invocar elementos sociológicos mas que, vamos percebendo, nos convoca mesmo à uma experiência existencial e terna. No filme, um homem que acabara de sair de um trem em Helsinque, a capital da Finlândia, é brutalmente espancado por um grupo de ladrões. Ele sobrevive, mas perde a memória. Ferido e sem documentos, sem nome e sem passado, o homem é acolhido por uma família que, junto com outras pessoas marginalizadas e muito pobres, vivem em contêineres insalubres na zona portuária da cidade.
Eis uma Finlândia pouco conhecida dos estrangeiros. País nórdico visto como social democracia de altos índices de qualidade de vida social e ambiental, nos filmes de Kaurismäki, assume outros contornos. Sua fábula, em “O Homem Sem Passado”, é sobre recomeço, reinvenção da vida, transcender os limites impostos pela sistematização total da existência. Se não contam os seres humanos, mas os nomes em seus documentos, se não contam suas memórias, mas apenas os registros do sistema, o homem sem passado está livre para outros modos de ser e sentir a vida, o amor, o mundo.
“O Homem Sem Passado” venceu Grande Prêmio e o Prêmio do Júri Ecumênico no Festival de Cannes de 2002, e foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro em 2003, o que torna Aki Kaurismäki o cineasta finlandês de maior projeção internacional. Mas não esperem melodrama. Não há autocomplacência, não há busca de redenção pela memória. Há, no absurdo da vida, o florescer de escolhas e novas possibilidades. Caminhos indefinidos, como a vida mesma, limitada por tanta coisa, mas solta das amarras.
– Por Mel e Fabricio, cineastas e curadores do Cinematógrafo.
* Fabricio e Mel são cineastas, pesquisadores e curadores do Cinematógrafo na Saladearte. Realizaram Mostras de Cinema como a “Cine Odé – Cinema no Terreiro”, em Ilhéus, e dirigiram juntos vários filmes, destacando-se “hera” (2012), “Muros” (2015) e “Quarto Camarim” (2017).
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