[Encontro de novembro adiado para dezembro]. Nesta quarta, dia 17/dezembro, vamos ao nosso 173° Encontro Virtual Cinematógrafo! O assunto, desta vez, é o filme “Dois Destinos” (1962), do cineasta italiano Valerio Zurlini.
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NOTA DOS CURADORES
POR Mel e Fabricio, curadores do Cinematógrafo.
O cineasta italiano Valerio Zurlini (1926–1982) dizia sonhar com um cinema capaz de filmar os sentimentos em sua pureza, como se a experiência emocional pudesse existir à margem da história. Em Dois Destinos (Cronaca Familiare, 1962), contudo, essa aspiração se revela paradoxal: o contexto social e político da Itália do pós-guerra não apenas está presente, mas estrutura silenciosamente as sensibilidades e os destinos das personagens. Ainda assim, tudo se dissolve com tamanha delicadeza no drama íntimo de dois irmãos separados pela vida, que o filme se impõe, sobretudo, como uma elegia sobre os vínculos familiares, a culpa e o amor fraterno.
Marcello Mastroianni interpreta Enrico, intelectual melancólico que, ao receber a notícia da morte do irmão mais novo, Lorenzo, revisita em memória a história de suas vidas apartadas. Criado pela avó pobre, enquanto o irmão foi acolhido por uma família aristocrática, Enrico cresce entre privação e rigor moral, obstinando-se em se tornar escritor; Lorenzo, por sua vez, assimila os códigos de uma classe em declínio, habitando um mundo refinado e igualmente frágil. O reencontro de ambos, narrado pela perspectiva de Enrico, configura-se como uma tentativa de recompor laços interrompidos, num movimento tão afetuoso e comovente quanto condenado pelo peso do passado.
Premiado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza — em uma ocasião histórica em que dividiu o prêmio com A Infância de Ivan, de Tarkovski —, “Dois Destinos” marca o auge da maturidade estética de Zurlini, situado entre o legado moral do neorrealismo e um pendor à introspecção e ao drama existencial, de estilo conciso e intenso. As circunstâncias históricas moldam as subjetividades, mas não as limitam: Enrico e Lorenzo vivenciam uma aproximação que transcende toda materialidade e atinge o nível do espírito ou, dito de outro modo, da amplitude trágica, amorosa, infinita e desconhecida da condição humana.
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Participe do nosso 173º Encontro Virtual Cinematógrafo! Os encontros virtuais são uma ação que viemos realizando desde o início da pandemia, mas que ganharam dinâmica própria e continuam, mesmo com a retomada das sessões presenciais. Os curadores Mel e Fabricio vão introduzir a conversa e depois abrir à participação do público. Venha compartilhar suas impressões conosco.
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Cinematógrafo Ssa 