Se há, parafraseando Wim Wenders em “Tokyo-Ga”, algum tesouro sagrado neste mundo, são os filmes de Yasujiro Ozu. Neste mês de maio, o Cine Cineasta se dedica à obra do mestre japonês, apresentando quatro obras suas que, juntas, formam um pequeno, mas pungente e fiel, recorte de sua vasta filmografia.

No Pós-guerra, a partir do final dos anos 1940, o estilo e os temas mais caros de Ozu se redefiniram, tornando-o um dos cineastas mais admirados do mundo. O seu rigor artístico se pôs a serviço de simplicidade consciente. Planos fixos cuidadosamente executados e a câmera postada quase no nível do assoalho, extraem certos fragmentos do mundo da perspectiva da vida cotidiana, dos dramas familiares, expressados sempre contidamente, e dos conflitos geracionais que inquietavam um Japão tradicional em plena transformação com a intrusão afoita da modernidade.
Vendo um filme de Ozu, difícil será conter uma lágrima discreta, e mais difícil perceber em que momento do filme ela nos escapou, até porque ela não virá desacompanhada de um sorriso terno. Se, na vida, o governo da razão oculta o que há de encantador na rotina e desvia o olhar do que há de profundamente misterioso nas situações mais cotidianas e nos gestos mais fortuitos, o Cinema evocativo de Ozu dissolve o racional em uma experiência espiritual e, ao mesmo tempo, terrena, próxima. Um passeio, uma conversa ocasional, o vento tênue a movimentar as folhas de uma árvore, o gesto de descascar de uma maçã: tudo isso, em Ozu, são imagens que assumem uma sensibilidade transcendente sem prescindir da vida mesma, presente, corpórea e finita.
No cotidiano de dramas íntimos reside a força do cinema de Ozu, cuja misteriosa simplicidade nos preenche de emoção, não pela dramaticidade nem apelos narrativos, mas por uma identificação profunda e íntima com os dramas e as imagens essenciais de nosso tempo.
O Ciclo Ozu do Cine Cineasta começa, no primeiro fim de semana, com “Pai e Filha” (1949) e “Era Uma Vez em Tóquio” (1953), considerada sua obra-prima. No seguinte, vamos ver “Bom Dia” (1959) e “A Rotina Tem Seu Encanto” (1962), o último filme de Ozu. que morreu em 1963, no mesmo dia 12 de dezembro em que nascera, 60 anos antes, em 1903.
PROGRAMAÇÃO
Sábado, 14 de maio, às 10h – CineMAM
“PAI E FILHA” (1949)
Noriko é uma jovem que se dedica a cuidar de seu pai, o viúvo Somiya. Este, preocupado com o desinteresse da filha pelo casamento, finge que vai se casar novamente, para que Noriko comece também a procurar um noivo. Primeira de seis aparições de Setsuko Hara na chamada “Trilogoa Noriko”, de Ozu.
Domingo, 15 de maio, às 10h – Cine Daten, Paseo Itaigara
“ERA UMA VEZ EM TÓQUIO” (1953)
Um casal de idosos parte do interior para Tóquio, para visitar seus filhos adultos, que estão ocupados demais para dedicar atenção especial aos pais. Noriko, a nora viúva, entretanto, trata o casal com ternura. Um olhar sensível sobre a vida familiar impactada por um mundo em transformação. Amplamente considerado a obra-prima de Ozu e um dos maiores filmes da história do cinema.
Sábado, 21 de maio, às 10h – CineMAM
“BOM DIA” (1959)
Depois que um jovem casal adquire uma televisão em uma pequena comunidade de Tóquio, as crianças do bairro passam a frequentar sua casa para assistir às lutas de sumô. Encantados pelo aparelho, os irmãos Isamu e Minoru exigem de seus pais uma televisão só para eles. Os pais recusam o pedido, e os dois em protesto fazem uma greve de silêncio, gerando um conflito familiar.
Domingo, 22 de maio, às 10h – CineMAM
“A ROTINA TEM SEU ENCANTO” (1962)
Estrelado por Crishu Ryu, presente também em “Pai e Filha” e “Era Uma Vez em Tóquio”. Ryu, aqui, é o patriarca da família Hirayama. Ele percebe que precisa arranjar um casamento para a sua filha Michiko, que tanto se dedica a cuidar do pai. Ültimo filme de Ozu, que morreu apenas um mês depois de seu lançamento. Considerado por muitos uma das melhores obras de Ozu, sintetizando toda a sua obra.



