“As Harmonias de Werckmeister” (2000), do húngaro Béla Tarr, nos atinge a consciência, mas provoca, sobretudo, a imaginação. Sessão única seguida de roda de conversa, neste sábado (28), às 16h, no Cinema do Museu (na Vitória). Confira a nossa nota, abaixo.

NOTA DOS CURADORES
Em “As Harmonias de Werckmeister”, as contradições afloram para melhor expressar o lugar do cinema: espetáculo e pensamento, desencanto e encantamento, a metafísica e a corporeidade do real, o infinito mistério cósmico e a infinita cegueira humana. – POR Mel e Fabricio, curadores do Cinematógrafo.

“Um bonito conto de fadas romântico”! Assim o cineasta húngaro Béla Tarr se refere ao seu filme “As Harmonias de Werckmeister” (2000). Mas não nos deixemos levar pela irônica autoapreciação do diretor, reconhecidíssimo tanto por “salvar o cinema moderno” (Susan Sontag), quanto pela desafiadora exigência que nos faz através de seu cinema, cujas poética e paisagens expressam um deslocamento do realismo no interior mesmo da concretude material do real.
Baseado no romance “The Melancholy of Resistance”, de László Krasznahorkai (escritor e co-escritor dos filmes de Béla Tarr), “As Harmonias de Werckmeister” se passa na Hungria dos tempos comunistas. O cotidiano de uma pacata cidade é perturbado pela chegada de um espetáculo de feira, que exibe uma enorme baleia empalhada e anuncia a presença de um misterioso príncipe. O ingênuo e crente János Valuska, figura que remete ao Idiota de Dostoievski, conduz a narrativa, cujas conotações apocalípticas aludem à fragilidade da ordem social, enquanto a baleia e o príncipe dão ao filme um tom alegórico ou simbolista.
A força do símbolo, entretanto, reside justamente em sua abrangência poética que o torna irredutível às interpretações demarcadas. Se quisermos referenciar Moby Dick ou o Leviatã, ou lembrarmos da santidade de O Idiota ou do niilismo de “Os Demônios”, de Dostoievski, ou mesmo se recorrermos à filosofia política ou à leitura alegórica alusiva de violentos ‘movimentos das massas’ mobilizadas, tudo isso estará lá, em inquietante relação com a nossa atualidade. Mas tudo isso é também uma redução da Poética de Béla Tarr.
É que, a exemplo de outros de seus filmes (Satantango, O Cavalo de Turim, entre outros), o cinema de Béla Tarr, se nos atinge a consciência, provoca, sobretudo, a imaginação. Em “As Harmonias de Werckmeister”, as contradições afloram para melhor expressar o lugar do cinema: espetáculo e pensamento, desencanto e encantamento, a metafísica e a corporeidade do real, o infinito mistério cósmico e a infinita cegueira humana.



O CINEMATÓGRAFO
A nossa programação é mensal, com diferentes ações que incluem mostras de grandes nomes do cinema, programas inclusivos para crianças, sessões Cult e de Comédia, além do Cinematógrafo, esta sessão, a sessão raiz voltada para filmes contemporâneos que evoquem assuntos do mundo contemporâneo, ligados à arte, à política e à vida mesma, com sessões seguidas de conversa, no Café do Cinema do Museu, conduzida pelos curadores.
O nosso esforço é o de incentivar uma relação de confiança e de descoberta entre o público e a curadoria, feita pelos cineastas Camele Queiroz e Fabricio Ramos, e expandir as relações com o cinema a partir de cada filme apresentado, tomando o cinema como instância de fruição, pensamento e crítica, além de uma espaço de encontro, formação e diálogo crítico. Participem!