A sessão Cinematógrafo (presencial) acontece mensalmente, sempre no último sábado do mês, e traz filmes que ensejem conversas sobre questões contemporâneas, abrindo para a roda de conversa após a sessão. A roda acontece no pátio do Café do Cinema do Museu. A seguir, a Nota dos Curadores sobre o filme de janeiro.

Sessão única, sábado, dia 26/11, às 16h, na Saladearte Cinema do Museu (Corredor da Vitória). Depois, roda de conversa aberta, mediada pelos curadores.
📒 NOTA DOS CURADORES
… o impacto das guerras na vida existencial contemporânea globalizada.

Certos filmes são “formas de pensamento”, capazes de produzir uma espécie de “choque” no espectador. Se acompanharmos a reflexao de Deleuze, esse choque é sentido como uma força (‘dehors’) que emana do filme, imprimindo agressivamente a problemática filosófica do filme na mente do espectador.
Choque e força, aliás, são palavras que condensam bem a experiência a que “Incêndios” nos convoca. Filme que não prescinde, pelo caráter hiperabrangente de sua temática central, de uma fruição pela chave intelectual, ele prescinde menos ainda da chave sensível e emocional que dispara em nós, espectadores.
Podemos entrever a síntese de sua temática central: o impacto das guerras na vida existencial contemporânea globalizada. Em “Incêndios”, Villeneuve mergulha numa investigação existencial envolvendo questões delicadas, partindo da imprecisão para abordar a angústia de uma mulher, os segredos de uma família, a evocação da busca e do valor da verdade, os círculos de amor e ódio.
As oscilações narrativas operam, ao mesmo tempo, as lutas pelas rupturas destes círculos, mesclando de forma contrastante a historicidade global contemporânea e o seu impacto na vida das personagens, desde o pacato Canadá até o deflagrado Oriente Médio.
“A mulher que canta”, coração materno desse drama, incorpora a violência real de uma guerra tão brutal quanto virtual para os filhos que, frutos dela, não a vivem na carne, mas a assimilam de modo misterioso em seus espíritos e corpos.. A verdade, em termos vivenciais, torna a realidade do outro e da vida mais compreensível, mas cobra seu preço.
“Tudo se passa como se o cinema dissesse: comigo, com a imagem-movimento, vocês não podem escapar do choque que desperta o pensador que há em vocês”, completa Deleuze em sua reflexão. Tendo em vista esse filme, esse pensador que há em nós pensa com a emoção, a identificação, a temerária vontade de descoberta e de saber, que participa da vida, sem decifrá-la. Ele passa a viver no limiar infinito da tragédia e da beleza que a se traduz na imagem de uma mulher que canta.
Por Mel e Fabricio, cineastas e curadores do Cinematógrafo na Saladearte.



A proposta do Cinematógrafo é expandir a nossa relação com o cinema e cada filme apresentando, trazendo-os para a experiência da própria vida, assumindo a reflexão sobre questões contemporâneas de nosso mundo, evocadas pelos filmes e pela arte do cinema!
A cada mês, uma nova programação especial. Entre outras ações, como o Cine Cineasta (ciclos de grandes nomes do cinema); o @cinematografinho (que tem crianças como protagonistas); o Cult; o Comédia; temos a Sessão Cinematógrafo, que acontece no último sábado do mês e traz filmes que ensejem discussões sobre temas contemporâneos existenciais, políticos, culturais, sociais e espirituais.