O Cine Cineasta apresenta um breve panorama da obra de um dos mais famosos cineastas da história. Este mês, as sessões serão na Saladearte – Cinema do Museu (na Vitória), nas manhãs de sábado (18) e domingo (19), ambas as sessões às 10h, e no dia 22 (quarta), as 19h.
A vasta filmografia de Ingmar Bergman que, realizada ao longo de sete décadas, vai desde o pioneiro Crise, de 1945, até o derradeiro Saraband, de 2003. Em seus filmes, o diretor sueco apreciava temáticas religiosas ou existenciais, por assim dizer, e das relações humanas, que se expressavam na forma de dúvidas em relação a Deus, as recordações da infância, as dificuldades de relacionamento, a impossibilidade de comunicação e os problemas entre os artistas e a sociedade.
Em maio, o Cinematógrafo – Cine Cineasta apresenta três filmes do célebre diretor sueco, sem dúvida um dos mais discutidos cineastas do mundo, com uma obra composta por cerca de quarenta filmes, mas também peças de teatro e óperas.
Os filmes são Através de um Espelho (1961, 90 min), que passa na sessão de sábado, 10h. Um intenso drama psicológico que é o primeiro filme da Trilogia do Silêncio. A versão feita para o Cinema de Fanny e Alexander (188min, 1982), que passa no domingo, às 10h, com sessão seguida de roda de conversa. O filme, que pode ser visto como um testamento de um dos maiores gênios do cinema, foi o maior sucesso comercial de Ingmar Bergman, considerado por muitos como seu filme mais pessoal e mesmo um autorretrato do cineasta, além de uma síntese de todos os temas tipicamente bergmanianos.
Na quarta a noite, às 19h, a terceira sessão traz Persona (1h23, 1966), o primeiro de 12 filmes em que Bergman e Liv Ullmann trabalharam juntos e que traz também Bibi Andersson, que já havia atuado em diversos filmes do diretor.
Em Persona, que aborda um tema caro a Bergman relacionado às dificuldades de relacionamento e os incessantes distúrbios que os problemas de personalidade causam na mente humana, os close-ups adquiriram outro significado na estética e dramaturgia do diretor: a câmera foi ficando cada vez mais próxima do rosto humano como se quisesse desvendá-lo, em busca da ‘alma’, fixando momentos de beleza germinados na angústia bergamaniana.
A seguir, um trecho resumido extraído do livro O Planeta Bergman, de Carlos Armando Magalhães Lopes, que sintetiza os elementos constitutivos da obra de Ingmar Bergman:
Tentar dar uma significação global à obra de Ingmar Bergman, fazer uma síntese de seus elementos constitutivos, é antes de tudo deixar-se embalar por uma série de imagens-mães que deixaram em nossa mente um traço indelével, signo de uma potência visual extraordinária. São imagens sempre marcadas por uma grande beleza plástica, que não constituem somente as fulgurações do estilo bergmaniano, mas imagens que trazem no interior de si mesmas a significação dos filmes e sobretudo sua tonalidade dramática, seu ritmo lento cortado por impulsos de emoções. (…) Ver um filme de Bergman é meditar, é ir o mais fundo possível no âmago do ser humano, é viajar por um planeta estranho à procura de uma chave que possa abrir nosso próprio cárcere para nos libertar de nós mesmos, nos fazer sair das trevas, acendendo a chama para que possamos caminhar melhor no nosso mundo interior. (…) Rostos em sua terrível nudez, em sua beleza muda, traduzindo sentimentos. O que interessa é a alma, o rosto e o que está por trás do rosto. E o caminho para penetrar na alma de um ser humano começa pelo rosto.Se a obra de um artista se define pela fidelidade a uma temática, então esse artista é Bergman, o cineasta da alma, mas também o cineasta do corpo, da pesquisa gestual do corpo, da presença física de personagens integradas ao cenário, personagens que fazem avançar a ação na medida em que são colocadas em cena como no teatro. (…) A arte de viajar por dentro das pessoas, eis uma das essências bergmanianas. A viagem comoforma simbólica de atingir um objetivo, ou como um meio de estruturar o próprio filme. (…) Em suas viagens, Bergman procura distinguir a vida exterior da vida interior, a vida estética da vida ética, depois de passar desta última a uma vida sobrenatural, para não dizer religiosa. Deus e o amor estão sempre presentes na obra do cineasta, mas se o amor existe como uma realidade no mundo dos homens, Deus permanece como uma dúvida, no seusilêncio e no seu mistério. É justamente afrontando esse silêncio e esse mistério que Bergman lança as suas interrogações e nos remete a uma responsabilidade interior, na qual nos apercebemos ser impossível exprimir o inexprimível, comunicar o incomunicável, traduzir o intraduzível.
Republicou isso em BAHIADOCe comentado:
O Cinematógrafo – Cine Cineasta apresenta um breve panorama da obra de um dos mais famosos cineastas da história. Este mês, as sessões serão na Saladearte – Cinema do Museu (na Vitória), nas manhãs de sábado (18) e domingo (19), ambas as sessões às 10h, e no dia 22 (quarta), as 19h.
CurtirCurtir