Um ano de encontros virtuais de cinema com presenças reais e promovendo aproximações em tempos de distanciamento social

O Cinematógrafo começou propondo ao público filmes contemporâneos que ensejassem conversas sobre temas culturais, sociais e filosóficos. Desde que o distanciamento social forçou a suspensão de atividades de convívio e o consequente fechamento das salas de cinema, a iniciativa independente, que acontece em parceria com o Circuito Saladearte em Salvador, migrou dos encontros presenciais nas salas do Circuito, para os encontros virtuais, realizados online de modo aberto e gratuito.

O primeiro encontro virtual aconteceu em 10 de abril de 2020 e, neste sábado, 10 de abril, a ação completa exatamente um ano, apresentando uma cinematografia diversificada, atenta aos problemas imediatos e valorizando o Cinema como instância de pensamento, de crítica social e de formação sensível compartilhada.

Com curadoria dos cineastas e pesquisadores Camele Queiroz e Fabricio Ramos, o Cinematógrafo Virtual apresentou, nesse período, cerca de 70 filmes que foram discutidos em encontros virtuais participativos, ou seja, o público compartilha suas impressões mutuamente, ao vivo, a cada encontro.

Para Camele, “os encontros são virtuais, mas as presenças das pessoas são reais e são elas que dão a substância de cada conversa, expandindo as relações que nós estabelecemos com cada filme”. A curadoria se mostra atenta aos problemas contemporâneos e escolhe os filmes respeitando um princípio orientador fundamental: que algo neles provoque ou estimule o pensamento, favoreça o debate crítico e propicie uma experiência que envolva a arte com as questões de nossa vida que podem ser compartilhadas, debatidas e conversadas socialmente. Filmes nacionais e de diversos países, documentários independentes, clássicos do cinema e animações, já foram temas dos encontros, que acontecem sempre nas tardes de sábado.

Funciona assim: a cada semana, os curadores indicam um filme que pode ser visto online em casa, até o dia do encontro em que o filme será debatido. Na sala virtual, eles introduzem o papo e mediam a conversa. “Depois de algumas experimentações iniciais no ambiente virtual”, conta Camele, “acabamos consolidando uma dinâmica participativa que a cada encontro reúne uma diversidade de olhares e experiências que são compartilhados a cada sessão, sempre com um filme diferente”.

Fabricio provoca: “somos o “anticineclube”, mesmo sendo nós mesmos cineclubistas, pois buscamos deslocar o sentido de “clubismo” e expandir os encontros de cinema para além da cinefilia. O cinema mobiliza pensamentos, questões, emoções e sentimentos sobre o mundo e a vida. O cinema, enquanto arte, participa de um modo muito especial da aventura do conhecimento e qualquer um que busque uma relação assim com o cinema é nosso público-alvo!”

CONVIDADOS ESPECIAIS

Os encontros virtuais, por serem remotos, favorecem a adesão de gente de diversos lugares da Bahia e do Brasil. E também possibilitam participações de convidados especiais, como as do ator Vladimir Brichta, do diretor indicado ao Oscar, Abdehamane Sissako, do cineasta baiano Edgard Navarro, da montadora e cineasta Cristina Amaral, entre várias outras pessoas de trajetória no cinema e na arte que passaram pelos encontros e se mostraram entusiasmadas com a experiência.

A experiência do Cinematógrafo, complementa Fabricio, “mostra que é possível se aproximar de grandes profissionais e artistas e promover encontros entre pessoas tão diferentes, discutir os temas mais sensíveis e delicados, e se encantar com isso!”

O próprio público do Cinematógrafo, de forma autônoma, confeccionou um E-Book que reúne relatos e imagens dos participantes e um vídeo em homenagem ao Cinematógrafo, por ocasião do último encontro de 2020, pegando de surpresa os próprios curadores. O e-book pode ser baixado gratuitamente no site da iniciativa.

O Encontro que celebra um ano de Cinematógrafo acontece neste sábado, dia 10 de abril, às 16h, via Google Meet. Para participar, basta se cadastrar através do site do Cinematógrafo para receber por email as informações e links de cada encontro. Será o encontro de número 80! Os curadores, entretanto, ponderam: “nunca imaginamos que, um ano depois de começarmos os encontros, estaríamos numa situação tão drástica e vivendo uma crise sem precedentes, num país sem direção governamental.” Enquanto não for possível o retorno seguro às salas de cinema, os Encontros Virtuais Cinematógrafo e Saladearte continuam, abertos e gratuitos. “Acreditamos que pensar, através do cinema, sobre aspectos fundamentais da vida e seus problemas é uma atitude, um gesto capaz de se converter em ação diante da vida para, quem sabe, criar as condições para transformar realidades”, concluem os curadores, que contam com uma rede de apoio de voluntários que contribuem com o Cinematógrafo, possibilitando a sustentabilidade material da iniciativa. O Cinematógrafo na Saladearte é, antes de tudo, um espaço de encontro solidário mobilizado pela energia cultural do Cinema.

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