O Cinematógrafo Cult programa aqueles filmes excêntricos, às vezes pouco conhecidos, mas que ao longo do tempo estabelecem a sua legião de fãs e assumem um lugar cultuado no cinema!
Neste mês, o filme é: “Eles Vivem”. Sessão única, quinta-feira, às 20h, no Cine MAM.

ELES VIVEM (They Live, 1988)
De John Carpenter
“Eu vim aqui para mascar chiclete e chutar seus traseiros. E meu chiclete acabou.” Como um Prometeu contracultural tardio, o John Nada de “Eles Vivem” ousa confrontar os “deuses”.
“Eles Vivem, nós dormimos”. Em “Eles Vivem” (“They Live”, 1988), clássico Cult do célebre diretor John Carpenter, a ideologia é uma “ótica” – e Carpenter subverte o lugar do próprio cinema através de uma sátira política, misto de ação e ficção científica que parodia o auge do cinema de ação dos anos 1980. Num tempo de imagens, o Fogo roubado por Prometeu é a possibilidade de uma nova ótica.
Baseado no conto “Eight O’Clock in the Morning”, de Ray Nelson, e estrelado por Roddy Piper, Keith David e Meg Foster, “Eles Vivem” segue um desempregado sem-teto chamado John Nada, que casualmente descobre uns óculos de sol especiais capazes de revelar uma inquietante realidade oculta: o sistema-mundo do planeta Terra é, na verdade, uma manipulação de alienígenas que são a classe dominante disfarçada, que manipula as pessoas para reduzirem as suas vidas ao afã do consumismo e do conformismo, à obediência ao status quo, através de uma profusão de mensagens subliminares veiculadas massivamente na mídia, na publicidade e na propaganda.

Estamos na Era Reagan. De um lado, as políticas moralistas e conservadoras radicalizam o militarismo e o neoliberalismo. De outro, vemos a profusão de filmes de ação “Rambo”, “O Exterminador do Futuro”, “Predador”, “Duro de Matar”, “Máquina Mortífera”, “Comando Para Matar”, que dominavam os cinemas e a televisão pelo Mundo. Carpenter aciona, portanto, o imaginário estético de uma época para tecer a crítica frontal do sistema dominante.
“Eles Vivem” se estrutura numa narrativa simples, de estética estereotipada que alude a esses filmes de ação disseminados. Mas seus sentidos gerais abrangem desde a crítica da Sociedade do Espetáculo a la Guy Debord e sua densa prosa atacando o capitalismo e mesmo o marxismo, criticando a mediação da imagem e a consequente alienação em massa das pessoas em relação à sua própria subjetividade, até o Mito da Caverna de Platão.
John Carpenter já vinha trazendo alienígenas e ação nos célebres “O Enigma de Outro Mundo” (The Thing), “Starman – O Homem das Estrelas” e “Fuga de Nova York”, mas em “Eles Vivem” a perspectiva política assume o tom, corrosivamente.



CURIOSIDADES:
Uma cena de Luta em “They Live”, que dura prolongados oito minutos, se tornou uma das cenas mais emblemáticas do filme!
A banda de rock Green Day homenageou They Live em seu videoclipe de “Back in the USA” do álbum Greatest Hits: God’s Favorite Band.
Já a banda punk Anti-Flag usou o filme como inspiração para seu videoclipe de 2020, “The Disease”.
Em julho de 2018, o filme foi selecionado para ser exibido na seção Clássicos de Veneza no 75º Festival Internacional de Cinema de Veneza.
O filme é conhecido por uma frase popularmente citada por Nada: “Eu vim aqui para mascar chiclete e chutar traseiro. E estou sem chiclete.”