Em “Vergonha”, a guerra se torna uma presença cuja violência produz a degradação do comportamento e a deterioração das relações entre as pessoas e delas com o mundo e consigo mesmas… Sessão única, sábado, dia 26 de março, às 16h, no Cine MAM.

📒 NOTA DOS CURADORES
Vergonha” aborda a própria guerra e, se Bergman fez um filme atemporal, significa que ele fala também de nosso tempo, agora.

“Vergonha”, de 1968, é um filme de Ingmar Bergman, um dos maiores nomes da história do cinema. Bergman, eventualmente acusado de alienação política, é considerado um investigador da alma humana. Seus filmes célebres, como por exemplo “O Sétimo Selo” e “Gritos e Sussurros”, abordam a inquietude, a dúvida e a Fé, e os conflitos íntimos das tramas humanas. Em “Vergonha”, entretanto, é a guerra, real e concreta, que eclode e instaura o conflito e a degradação ética, psíquica e emocional na vida de um casal.
Eva (Liv Ullmann) e Jan Rosenberg (Max von Sydow), são dois músicos que se exilam em uma ilha para fugir da guerra. A princípio, vivem uma vida idílica, não obstante os sinais da aproximação da guerra, que paira como uma ameaça. Enfim, a guerra os alcança e chega à ilha, ao interior de sua própria casa, dentro deles mesmos. A guerra se torna uma presença cuja violência produz a degradação do comportamento e a deterioração das relações entre as pessoas e delas com o mundo e consigo mesmas.
Bergman já declarou que a ideia do filme surgiu “de uma sensação de terror pessoal” diante das implicações de uma guerra na vida física e psíquica. Em síntese, esse é o tema de “Vergonha”, cuja primeira parte mostra a guerra concreta e seus horrores, uma guerra cujas razões não nos são dadas nem se refere a nenhum evento histórico determinado, enquanto a segunda parte mostra os efeitos e impactos da guerra na vida do casal.
Na conturbada década de 1960, o terror se reflete nos filmes do próprio Bergman: em “Luz de Inverno” (1962) e “O Silêncio” (1963) a guerra é pano de fundo mais ou menos central. Em “Persona” (1966), há uma referência explícita à guerra do Vietnã. Finalmente, “Vergonha” aborda a própria guerra e, se Bergman fez um filme atemporal, significa que ele fala também de nosso tempo, agora.
POR FABRICIO E MEL, cineastas e curadores do Cinematógrafo



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