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Para Abbas Kiarostami, um filme não deve se limitar a ilustrar um roteiro nem representar uma coisa; deve ser um acontecimento. Mas, em seus filmes, o princípio da incerteza, típico de filmes documentais, cumpre uma função fundamental na proposta estética do diretor, que oscila entre a realidade e o artifício. O acontecimento não se traduz num fato, portanto, nem numa obra fechada em si mesma. Trata-se, antes, de uma busca, de uma espera, de um filme sempre incompleto, não por lhe faltar algo propriamente, mas por oferecer tantas coisas que nos escapam para serem por nós recriadas.

Em “O Vento nos Levará” (Irã, Fra, 1999), uma equipe de filmagem, da qual só veremos o diretor, vai a um vilarejo para registrar o ritual fúnebre da senhora Malek, mas a morte da anciã demora de acontecer. O filme transcorre nessa espera que, esteticamente, se expressa pelo minimalismo e pela transcendência, através do mistério que a vida e o tempo inspiram, resultando num cinema que alia extrema simplicidade com sutil depuração, além de um pensamento sobre o próprio cinema.

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Os filmes de Kiarostami começaram a circular pelo Ocidente no final dos anos 1980, graças a “Onde fica a casa de meu amigo?” (1987), filme exibido no dia 12 de janeiro no CinematograFinho. Sua ficções com jeito de documentário chamaram a atenção de críticos e cinéfilos e, até a sua morte em 2016, já era considerado um dos maiores cineastas contemporâneos.

Muito já se disse sobre Kiarostami e sobre sua obra que, marcadamente, valoriza o transcendente através do prosaico, a vida mesma através do artificialismo assumido.

Alain Bergala, que é crítico, ensaísta, roteirista e diretor de cinema francês, nos oferece uma síntese que traduz os caminhos de Kiarostami: sua obra conjuga, de modo original, transparência e dispositivo, brutalidade do real e cinema mental, realidade e abstração, realismo e fantasia, física e metafísica, tradição e vanguarda, Oriente e Ocidente.

A sessão de janeiro do Cinematógrafo acontece no sábado, dia 26, às 16h30, na Saladearte – Cinema do Museu, que fica no Corredor da Vitória.

O VENTO NOS LEVARÁ – Irã, França, 1999. Cor – 1h 58min. Direção: Abbas Kiarostami. Classificação Indicativa Livre.

O CINEMATÓGRAFO NA SALADEARTE

O Cinematógrafo acontece mensalmente na Saladearte — Cinema do Museu (Corredor da Vitória), sempre no último sábado do mês, exibindo filmes de formas e temas diversificados. A curadoria é dos cineastas Fabricio Ramos e Camele Queiroz e as sessões são sempre seguidas de uma boa conversa sobre o filme, mas também sobre as relações do cinema com a arte e a vida. Os ingressos são vendidos normalmente no local, com preço especial no valor de meia entrada para todos.

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Um comentário em “Cinematógrafo de janeiro (sáb, 26): “O vento nos levará”, de Abbas Kiarostami

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