[Atualizado em 7 de outubro, 19h20]
O Cinematógrafo em Foco é uma das ações da iniciativa Cinematógrafo, dos cineastas e curadores Camele Queiroz e Fabricio Ramos, que promove em Salvador uma série de encontros mensais de cinema para todas as idades, com diferentes dinâmicas e propostas, em parceria com o Circuito Saladearte. O “Em Foco”, que chega ao seu terceiro mês, valoriza o cinema como instância de pensamento e crítica e já discutiu, a partir de diferentes filmes, arte, conflitos contemporâneos e, agora, a questão indígena no Brasil contemporâneo.
Neste mês, a ação exibe “Corumbiara” (2009), do cineasta Vincent Carelli, criador do projeto “Vídeo nas Aldeias”, precursor na área de produção audiovisual indígena no Brasil. A sessão domingo (13) contará com a presença de dois convidados especiais para o debate:
Tiuré Nascimento, indígena ex-exilado político no período da ditadura militar;
e Marcelo Ribeiro, professor e pesquisador da UFBA, que coordena projetos nos campos de cinema e direitos humanos.
O debate depois da sessão, aberto à participação do público, é mediado pelos curadores do Cinematógrafo e conduzido pelos convidados especiais.
CORUMBIARA
(nota dos curadores do Cinematógrafo):
Em “Corumbiara”, lançado em 2009, o diretor Vincent Carelli parte da investigação de um massacre de índios que ocorreu em 1985 na região de Corumbiara, em Rondônia, para pôr em discussão a questão fundamental que remonta às origens do país: a problemática dos povos originários que, em toda sua amplitude, é enfaticamente atravessada pelos desafios éticos e políticos mais essenciais do mundo contemporâneo, como direitos humanos, diversidade cultural, modelos de desenvolvimento e o papel do estado e da sociedade nisso tudo.
O tema da sessão, proposto pelos curadores, é resumido na expressão “Mundo Ameríndio, Nosso Mundo”, que pode ser entendida de maneira conflitante ou dialógica, ou seja, tanto como a marcação de uma diferença radical entre dois mundos, sendo um deles historicamente dizimado pelo outro até hoje, quanto como uma relação que reconhece nas diferenças ontológicas entre dois mundos, a necessidade de construção de uma relação de respeito entre o que chamamos Brasil e o que resta das nações, povos e indivíduos indígenas que existem e resistem.
Vincent Carelli trabalhou em “Corumbiara” por cerca de vinte anos, entre a época do massacre dos indígenas até o lançamento do filme, que foi o grande vencedor do Festival de Gramado em 2009, um dos mais importantes festivais de cinema do país. A premiação colocou o filme no cerne das discussões políticas, éticas e estéticas mais disseminadas no campo do cinema documental. Sem ingenuidades nem se deixando reduzir à denúncia do continuado extermínio das identidades indígenas, o filme aborda a violência da expansão agrícola na Amazônia e os desmandos estatais que a subsidiam, mas faz emergir também questões sobre o estatuto das imagens no mundo atual, as relações éticas e políticas entre quem filma e quem é filmado. “Corumbiara”, para além do seu conteúdo e forma, opera como uma instância entre dois mundos que assume a sua parte de invasão do mundo do outro para expor, nos seus próprios termos e limitado pelos seus próprios mecanismos de agenciamento, a condição do índio. Nada disso escapa à radical e até autocrítica abordagem de Carelli.
INGRESSOS E INCENTIVOS
Como meio de incentivo à participação de estudantes, professores e toda a comunidade das redes públicas de ensino, o Cinematógrafo em Foco e o Circuito Saladearte proporcionam um preço de ingresso diferenciado: toda a comunidade das Universidades Públicas Federais e Estaduais podem adquirir ingressos por um preço abaixo do valor de meia entrada (no caso, o ingresso sai por R$ 9,00), enquanto para alunos secundaristas da rede pública os ingressos custam R$ 6,00.
Para uma iniciativa que não conta com patrocínios de nenhuma natureza, a parceria do Circuito Saladearte com o Cinematógrafo tem sido de vital importância para viabilizar a realização de nossas ações.
“Corumbiara” tem sessão única no dia 13 de outubro, às 15h30, na Saladearte Cine MAM (no Museu de Arte Moderna, situado na Av. Contorno). A programação mensal completa das ações Cinematógrafo pode ser conferida no site da iniciativa e nas redes sociais do projeto.
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Dos curadores do Cinematógrafo, Camele Queiroz e Fabricio Ramos