Aliando simplicidade técnica e um olhar próprio sobre fazer cinema, Eduardo Coutinho nos legou um dos retratos mais complexos e comoventes das classes médias e populares do Brasil nas últimas décadas!

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Eduardo Coutinho (1933-2014). Indiscutivelmente, um dos grandes documentaristas contemporâneos, teve um papel central para que o documentário brasileiro passasse a ser considerado Cinema com “C” maiúsculo. Coutinho fez parte da geração que criou o Cinema Novo nos anos 1960. Mas com seus documentários, desde “Cabra Marcado para Morrer” (1984), que demorou 20 anos para ser concluído, até o póstumo “Últimas Conversas”, é que o diretor mudou o gênero em si e a própria história do cinema brasileiro.

“O Fim e o Princípio” (2005) não é uma das obras mais conhecidas do diretor de “Edifício Master”, “Jogo de Cena” e “As Canções”. Mas, como nestes últimos, traz as marcas de seu estilo autoral: personagens anônimos, exposição das condições de filmagem, ausência de roteiro e narração em off, enquadramentos fixos e próximos do entrevistado, planos longos em que a imagem e a palavra estão em pé de igualdade.

Trata-se, afinal, de um de seus mais vigorosos filmes! Em “O Fim e o Princípio” Coutinho radicalizou a sua proposta de instrumentalizar o cinema como meio de descoberta e encontro com a gente comum. Sem pesquisa prévia e sem definir personagens ou locações e nem mesmo o tema do filme, uma equipe de cinema chega ao sertão da Paraíba em busca de pessoas que tenham histórias para contar. No município de São João do Rio do Peixe, descobre-se o Sítio Araçás, uma comunidade rural onde vivem 86 famílias, a maioria delas ligadas por laços de parentesco. Graças à mediação de uma jovem de Araçás, os moradores, na maioria idosos, contam sua vida, marcada pelo catolicismo popular, pela hierarquia, pelo senso de família e de honra. Um mundo cheio de histórias e saberes em vias de desaparecimento.

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O Cinema de Eduardo Coutinho é um cinema essencial, que valoriza a autenticidade do encontro entre uma equipe de cinema e diferentes personagens da vida comum, sem recorrer a imposições técnicas nem artificialidades estéticas. O cineasta valorizava a palavra, um cinema oral, buscando nas pessoas comuns as suas singularidades e expressões subjetivas. Fazia um cinema não da verdade ou da mentira, mas da escuta: poucos cineastas foram capazes de extrair o mais profundo que há naquelas pessoas que, a nós, aparentam ser justamente as mais simples. Aliando inventividade e simplicidade técnica a um olhar próprio sobre fazer cinema, Eduardo Coutinho nos legou um dos retratos mais complexos e comoventes das classes médias e populares do Brasil nas últimas décadas!

“O Fim e o Princípio” é o filme do Cinematógrafo de dezembro. Sessão única no dia 21 de dezembro (sábado), às 16h30, na Saladearte Cinema do Museu, no Corredor da Vitória. Depois da sessão, para quem quiser estender a experiência de ver o filme, o bate-papo de sempre ao pé da mangueira, no bar/café do cinema mais charmoso de Salvador.

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