Sessão única, sábado, dia 26/11, às 16h, na Saladearte Cinema do Museu (Corredor da Vitória). Depois, roda de conversa aberta, mediada pelos curadores.
O vulcão, portanto, ganha contornos simbólicos e sua presença na paisagem exprime não somente o interior sensível de Maria, mas algo incompreensível em nós mesmos…

📒 NOTA DOS CURADORES
Por Fabricio e Mel, curadores do Cinematógrafo
O que significa IXCANUL? O filme da Guatemala, o primeiro produzido na língua Kaqchikel (da família Maia), transcorre no seio da diferença ontológica radical entre modos de ser e sentir, entre cosmologias e mesmo ontologias em conflito. A diferença cultural se traduz no drama individual da jovem Maria.
A história se passa num vilarejo maia, situado na encosta de um grande vulcão que o isola no limiar entre o mundo moderno e a sensibilidade tradicional. Maria, de 17 anos, é oferecida pelos seus pais para se casar com Ignacio, um fazendeiro que é o patrão da região. Seria um arranjo oportuno para amenizar as difíceis condições de vida da família, mas os sonhos e desejos da jovem entram em conflito com o mundo tradicional de seus pais e do lugar. Essa íntima rebelião impacta o destino de Maria.
O diretor guatemalteco Jayro Bustmente, em seu primeiro trabalho, encara com êxito os desafios de um filme assim: recorre a atores não profissionais, evita sentimentalismos e vitimismos, transmite com singeleza uma forte energia feminina e respeita a língua Kaqchikel. Aliás, essa diferença da língua, que se converte em poder de uma civilização sobre outra e, dessa perspectiva, separa aqueles que falam daqueles que apenas emitem sons e ruídos, se constitui como elemento central do drama de Maria e sua família.
Filmado com cuidado e com bela fotografia, a abordagem, de início aparentemente etnográfica, nos convoca a uma aproximação dramática tal que acaba por nos deslocar: as superstições tradicionais, no filme, se chocam com a racionalidade moderna, mas nós nos chocamos, emotivamente, com a expansão de nossa sensibilidade que se abre diante de um mundo tão desconhecido que se revela, na verdade, tão próximo de nós.
Ixcanul, termo Kaqchikel, poderia ser apressadamente traduzido por “vulcão”. Mas nada se compara às palavras que revelam modos de ser e sentir o mundo. Como alerta o próprio diretor, não temos acesso pleno à riqueza dos diálogos do filme: “ixcanul” significaria “a força interna da montanha que ferve à procura de erupção”. O vulcão, portanto, ganha contornos simbólicos e sua presença na paisagem exprime não somente o interior sensível de Maria, mas algo incompreensível em nós mesmos, algo de perigoso e fascinante, contido e sempre em ameaça de explosão.



A proposta do Cinematógrafo é expandir a nossa relação com o cinema e cada filme apresentando, trazendo-os para a experiência da própria vida, assumindo a reflexão sobre questões contemporâneas de nosso mundo, evocadas pelos filmes e pela arte do cinema!
A cada mês, uma nova programação especial. Entre outras ações, como o Cine Cineasta (ciclos de grandes nomes do cinema); o @cinematografinho (que tem crianças como protagonistas); o Cult; o Comédia; temos a Sessão Cinematógrafo, que acontece no último sábado do mês e traz filmes que ensejem discussões sobre temas contemporâneos existenciais, políticos, culturais, sociais e espirituais.
Participe. A sessão Cinematógrafo, essa ação em si, acontece sempre no último sábado do mês.